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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Historieta nº 02 - O Caso de Amor Continua

Saudações, amigos amantes da Nona Arte produzida em território tupiniquim!

Obrigado a todos que comentarm aqui e mesmo os que visitaram e não comentaram mas deixaram sua marca, seu carinho, sua lembrança aqui neste blog! A presença de vocês é o estímulo necessário pra seguir em frente e vasculhar um pouco mais o passado da HQB! Foi com imensa felicidade que recebi a notícia de que a postagem anterior estimulou amigos a lerem as Historietas que tinham em suas coleções e que, pelos motivos que todos nós temos que nos impedem de ler o que queremos, ainda não tinham lido e se deliciaram com a leitura gostosa do trabalho do nosso saudoso Oscar Kern! Sinto-me honrado e feliz pelo acontecido e parabenizo-os por agora fazerem parte do time de felizardos que contemplaram o trabalho apresentado ns primórdios da Historieta! Ao nosso amado Oscar Kern um muito obrigado póstumo por ter nos deixado este legado maravilhoso!
HISTORIETA Nº 02 - MAIS AMOR PELOS QUADRINHOS

A edição nº 02 de Historieta nos traz gratas surpresas e mostra o quão apaixonado era o trabalho de Kern & Cia. Apesar de não apresentar a sequencia de "A História dos Quadrinhos", nos deixando sem saber, por enquanto, se o Carequinha e o Hugo conseguiram chegar à Pedra da Eternidade para falar com o Mago Shazam, temos outras preciosidades valiosíssimas para contemplar.
Assim co
mo a edição 01 esta edição também não trazia a data da publicação, mas apresentava um expediente mais completo. Tínhamos também um editorial mais enxuto e organizado, diferente do confuso editorial da primeira edição, sinal que os autores buscavam a evolução constantemente. O formato interno de historieta apresentava mudanças significativas: enquanto na primeira edição tínhamos duas páginas por folha, nesta edição Historieta consagrava o formato que lhe caracterizou marcantemente, colocando uma página por folha no formato que conhecemos por "paisagem", salvo duas histórias, sobre as quais falaremos mais abaixo. Se era tendencia, não posso dizer, mas os leitores pediam isso na seção de cartas e das duas uma, ou Kern tratou o leitor com extremo respeito alterando o formato a pedidos, ou ele era um visionário que soube se antecipar ao desejo dos leitores. Em ambos os casos, um homem brilhante, que nos faz falta!
A capa anunciava "A Origem do Homem-Justo", ponto forte da publicação onde Kern, indo contra o pensamento que já predominava naquela época de que super-herói brasileiro era perda de tempo, publicava seu originalíssimo Homem-Justo de forma muito bem feita.
O conteúd
o da revista era de igual forma envolvente, como a primeira Hq, de autoria de Jonas Schiaffino, intitulada "A Bomba" que, embora traga o INSPETOR BÍCEPS como protagonista no título, dá destaque mesmo à bomba citada, que é o centro desta história onde se retratam facetas da estupidez presente no comportamento humano, desde o assaltante, ao salvador que vira vilão e ao funcionário que se deixa levar pelo oportunismo e pela ganância. Uma sátira divertida que nos faz refletir bastante sobre o mote "a ocasião faz o ladrão"! Nem é preciso dizer que o final da história do Jonas é pura justiça poética! "A Bomba é uma das HQs que ainda vinha no formato de duas páginas por folha.
Outro ausente nesta edição é o Doutor Fraud, que estrelava as tiras de Canini na edição anterior. Em compensação, Canini e suas colagens intituladas "O Nankim Mais Rápido do Oeste" tomam duas páginas da revista e nos fazem rir com cenas engraçadíssimas satirizando cenas dos quadrinhos de faroeste como TEX e LONE RANGER. Hoje podemos reconhecer os traços de mestres como Gugliemo Letteri, Giovanni Ticci, Fernando Fusco e muitos outros misturados naquelas colagens sensacionais e muito bem-humoradas.
Na sequencia, Tiago Barbosa nos mostra, em texto e desenhos, seu personagem CHICO FLEXA c
aindo sem querer no caminho de criminosos que disputam a posse de uma misteriosa maleta negra. O título óbvio da história é "O Caso da Maleta Negra", e o repórter com ares de detetive desvenda brilhantemente o caso nas barbas da polícia! Esta história havia sido produzida em 1967 para a "Maurício de Souza Produções, que na época publicava tiras de aventura embora tal fato durasse pouco tempo. Flávio Colin foi um dos que publicou "Vizunga" pela "Maurício de Souza Produções. Infelizmente para Tiago Barbosa, a história da maleta não foi publicada, pois Maurício de Souza passou a publicar apenas tiras de humor. Sorte dos leitores de Historieta! Não posso deixar de dizer que adoraria ler outras histórias de Chico Flexa, pois é um personagem interessantíssimo! A HQ se apresentava no formato "retrato", ou seja, para lê-la precisávamos virar a revista na horizontal e passar as páginas de baixo para cima, mas era uma página por folha.
Kern nos brindou ainda com outro momento histórico na seção "Gente de HQ", em duas partes nesta edição da revista; Na primeira parte, logo após a HQ da maleta negra, temos Tiago Barbosa,
criador do Chico Flexa acima citado, e Jorge Barwinkel, importantíssimo colaborador de Historieta nas seções "Mundo dos Quadrinhos", e "Páginas de Ouro das HQ", ambos examinando os originais da HQ "O Caso da Maleta Negra" e uma brevíssima biografia do primeiro, que nasceu aos 7 de Novembro de 1941 em Carazinho, RS.
"Páginas de Ouro das HQ", por Jorge Barwinkel,
vem logo a seguir fazendo água na boca de quem não viveu aquela época e vê as capas do hoje clássico "O Guri" com os personagens que fizeram a história das HQs e marcaram as vidas de inúmeras pessoas! É de babar ver capas com ÁGUIA FANTASMA, MR. ESCARLATE, CAVALEIRO NEGRO, e reprodução (em miniatura) de páginas de RAFFLES, Y-JUCA PIRAMA, CAMILLA (A RAINHA DO IMPÉRIO PERDIDO), CAPITÃO TORNADO, CAPITÃO TERRY THUNDER, BOB E JUCA OS DOIS ESCOTEIROS GÊMEOS, MARTAN (O HOMEM MARAVILHOSO) e... BUCK ROGERS, além de informações sobre a diretoria de "O Guri", por onde passaram Accioly Netto, Frederico Chateaubriand e Nelson Rodrigues (ele mesmo O Nelson Rodrigues, autor daquelas polêmicas histórias!). Um verdadeiro achado de informações sobre a história da HQ no Brasil!
Já Aparecido Cocolete da o ar de sua graça em Historieta com a
HQ de faroeste intitulada "Vingança" com texto e desenhos dele e letras de D. Maldonado. Esta é a outra HQ que trás duas páginas por folha. Os desenhos de Cocolete são excelentes para a época e poderiam muito bem ilustrar um dos muitos fumetti da Bonelli ou Bonellide, dadas as excelentes cenas que temos nessa HQ, onde um cowboy chamado Steve se vê às voltas com um bando de índios (aqui curiosamente chamados de renegados) e um mexicano que buscava vingança por ter sido preso no passado com sua ajuda. Os cenários da HQ lembram em muito os cenários das HQ's de Ken Parker desenhados por Ivo Millazzo. A HQ tem um final surpreendente, que mostra que desde sempre temos, sim, excelentes roteiristas no Brasil!"
Estreava a seção "Cartas & M
ercado" que é outra preciosidade da revista! Os leitores mandaram suas cartas e inclusive um deles, Fábio Santoro, chega a dar "notas" para itens presentes na Historieta, como o expediente, que recebe nota 2, a HQ do Homem-Justo, que recebe nota 4 e o formato da revista que recebe nota 10. Noutra carta Edson Rontani perguntava se Oscar era era parente de Sergio Kern da revista aregentina "Tinta" (O Oscar prometeu tentar descobrir). Em mais uma carta, S. Miguel, editor da revista "Piazito" e do suplemento "PIÁ" do Rio Grande do Sul dizia que gostou apenas do trabalho de Canini na Historieta 1 e destacou principalmente que heróis como o Homem-Justo já estavam saturados e isso já naquela época nos idos de 1979... o que ele diria hoje? São curiosidades deliciosas que só aumentam o valor da revista! Ainda haviam outras cartas, as quais se discorrer aqui certamente não me deixarão terminar a postagem! Passemos então a mais uma etapa de Historieta 2, que é a chamada de capa: O HOMEM-JUSTO!
A cidade é Porto do Sol, embora a história comece a 10 quilômetros dela. Aqui, com textos de Oscar Kern e desenhos de Ailton Elias, ficamos sabendo apenas o primeiro n
ome da identidade do Homem-Justo: Marco, que estava percando tranquilamente até a chegada do alienígena Borin que, ferido mortalmente lhe passa o cinto de campo de força e a nave. Um caso curioso é a predileção do Alienígena Borin por café! Ele pede um pouco antes de narrar sua história para aquele que seria o Homem-Justo. A história de Borin é digna das melhores HQ's de ficção da DC. Elias tinha um quê meio Ditko em Rac Shade nessas HQ's do Homem Justo. Coisa curiosa era a nave dimensional do Homem Justo que por dentro era maior que por fora, como logo constatou o Marco. Apesar de você prever o óbvio, a HQ prende você do começo ao fim, seja pela nostalgia, seja pelo ótimo roteiro de Kern que sabia escrever muito bem uma HQ. Antes do final ainda temos uma explicação para como o Homem Justo conseguiu encontrar o garoto sequestrado na edição anterior, graças a um aparelho que deteriminava o ritmo cardíaco de uma pessoa pelas suas características faciais! Kern era um gênio da criatividade! Não consigo entender como alguém podia dizer que essa história é sem graça e ultrapassada, não consigo mesmo! A origem do Homem-Justo é muito bem sacada e ficou marcada na minha mente como um verdadeiro clássico dos quadrinhos nacionais. E o futuro nos revelaria mais boas surpresas com o Homem Justo! Aguardemos!
A seguir, temos a segunda parte de "Gente de HQ" com um achado imperdível para os dias de hoje: Uma foto de dois
cabeludos chamados Franco de Rosa e Seabra, aqui descritos como Entusiastas de HQ, desenhistas e teimosos por terem publicado mais de mil tiras do CAPITÃO CAATINGA no jornal "Notícias Pupulares" de São Paulo. Nesta época ambos estavam produzindo as revistas "Klik" e "Zorro capa e Espada" para a Ebal. também são mencionadas as "famosas" revistinhas editadas no Paraná (quem lê entenda) onde ambos apareciam, embora o Seabra fosse mais frequente! História da HQ, pura História!
Era a vez, então, de Kern mostrar sua veia cômica em quatro tiras onde brinca com trocadilhos como "nadar entre as Honda
s" e "atirar nos Pumas" em meio a colagens similares às de Canini, mas com enfoque bem diferenciado e muito criativo!
Finalizando
a Edição, Jorge Barwinkel nos presenteia com mais três "fichas" de personagens que não foram incluidos no livro "O Mundo dos Quadrinhos" de Ionaldo Cavalcanti, na seção homônima, a saber: SEXTETO SECRETO, grupo de combatentes do crime criado por E. Nelson Bridwel e liderado pelo misterioso BEM-TE-VI, que chantageia o grupo, forçando-0s a agirem em seu nome com a filosofia de que "os fins justiicam os meios". Dick Giordano e Jack Sparling desenhavam as histórias, nas quais os membros do Sexteto desconfiavam uns dos outros, achando que BEM-TE-VI poderia ser um deles; SOLAR, O HOMEM ÁTOMO, criado por Paul S. Newman e Matt Murphy, publicado pela editora Gold Key e aqui no Brasil pela Ebal a partir de 1966. A revista teve duração de vinte edições. Solar era um Super Herói com a capacidade de converter seu corpo em energia e não tinha respiração nem pulsação; FIKOM, personagem originalíssimo criado por Fernando Ikoma . Um detalhe curioso é que Fikom é a junção da letra "F" de Fernando com o nome Ikoma sem o "A" do final. Fikom é um rapaz chamado Mukifa que, ao dormir se materializa em outra dimensão e vive aventuras fabulosas. Foi publicado pela editora Edrel e à época da publicação de Historieta não mais circulava.

Eu Li, Eu Gostei!

Por hoje é só, pessoal! A gente se vê em breve com Historieta nº 3!

Um grande abraço a todos fiquem com as bênçãos maravilhosas de nosso DEUS!

5 comentários:

Prismarte disse...

Muito bom, Sandro. Essa é a memória do quadrinho nacional que contribui para o quadrinho atual. Sugiro que coloque os artigo em partes (1ª, 2ª etc), para que possa ser lindo aos pouco pelos visitantes e usuários. Assim, para ser lido no monitor, é muito extenso. Mas está muito bom. Vamos pensar em, mais tarde, publicar esse belo artigo na Prismarte.

AMoreira disse...

Beleza Sandro.
Oscar merece ficar eternamente em nossa memória.
Sigo a sugestão acima, você pode "quebrar" a matéria em mais partes, assim ajudará a nos, Os preguiçosos.

Abraços.

Sandro Marcelo disse...

Jogul, como eu disse no post passado, é a opinião de um fã, não posso mudar o que sinto. Pra mim foi bem sacada por que houve todo um background a respeito de Borin e porque ele fora parar lá, além do espetáculo que era nave que ele deixou para o Marco. O fato do alienígena agonizante pra mim, é o mínimo. Há tantos elementos na origem do Homem-Justo, como o equipamento da nave, o passado de Borin, o acaso de ser o Marco (e não um escolhido especial como o Lanterna Verde), a cremação do corpo, a própria nave em si... eu não vejo falta de criatividade ali, muito pelo contrario, pra mim o Oscar foi além do conceito do alienígena que entrega um artefato a um terráqueo. MAs como eu disse, é opinião de fã.

JoguL disse...

Sandro,
respeito, e muito, sua opinião, que vai além de simples fã. Aliás, tardiamente, quero parabenizá-lo pelo ColecSandro - muito bem bolado -, que vou passar a acompanhar. Também admiro muito seu traço, seu conhecimento de anatomia. E, claro, tenho um tremendo respeito pela lenda que é Oscar Kern. Mas super-herói é marca registrada dos norte-americanos e tema prá lá de saturado por lá mesmo. E, creia, é com muita tristeza que faço minhas críticas. Não tenho nada contra quadrinho nacional, muito pelo contrário, temos verdadeiras pérolas, mas cada macaco no seu galho. É a minha opinião. Os argentinos, que Deus os tenha, são da opinião de que não passamos de "macaquitos", por que será...

Abração!

Anônimo disse...

Que beleza Sandro.
Me arranjaste mais dois problemas: Encontrar estas historietas e encotrar tempo para lê-las.
Mas sua paixão por esta série já me influenciou e agora vou correr atrás desse material.
Abração.
Andre Bufrem