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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Historieta 03 - Parte Final

Amantes da Nona Arte, aqui está a última parte da minha apresentação sobre Historeita nº 03.

Aqui nós vemos um agradável bate papo com uma lenda dos quadrinhos que deixou-nos um legado que resiste até os dias de hoje aos trancos e barrancos, o que é uma pena, pois o CAPITÃO MARVEL e a não menos sensacional FAMÍLIA MARVEL são personagens que fizeram a alegria de muitas pessoas por muitos e muitos anos! Sim, estamos falando de C.C. (Charles Clarence) Beck, que nesta entrevista nos dá uma idéia de como se desenrolavam as coisas no mercado norte-americano de quadrinhos nos áureos tempos! De acordo com a revista, a entrevista foi concedida ESPECIALMENTE para Historieta por intermédio de José Jefferson Barbosa de Aquino, tendo sido realizada por Paul Hamerlinck. As tiras que ilustravam a entrevistas eram, de acordo com a revista todas inéditas.
Beck começa a entrevista respondendo sobre seu método para desenhar e explica que chegava a desenhar a mesma cena uma dúzia de vezes ou mais até ficar satisfeito com o resulado final e só aí partia para o nanquim, ressaltando que seu público não merecia "garatujas". A cabeça do Capitão Marvel, por exemplo, levava uma hora ou mais para concluir e declarava que jamais teria condições de competir com a rapidez de Jack Kirby. Beck também nos avisa hoje que desde aquela época já haviam editores que esqueciam o primordial fator de se ter em mãos uma boa história. Imagine só, naquele tempo em que as histórias eram tão legais já se falava disso! Imagina o que o velho Charles Clarence diria hoje com tanta "Crise" e "Guerra" nos quadrinhos de super heróis? De acordo com ele de nada adiantava um belo trabalho artístico, muita ação, belos cenários e um argumento pífio. E ele ainda diz que as hqs em 1979 continuavam tão ruins quanto em 1938...
Prosseguindo em suas alfinetadas, ele afirmava que a Natinal Periodics (DC Comics) conseguia a proeza de arruinar todas as coisas boas que conseguiu controlar, entre elas o Super-Homem de Siegel e Shuster quando os substituiu. Suas alfinetadas também acertavam a Republic Pictures, produtora da série SAHAZAM a qual, segundo ele "produziram porcarias".

Beck tinha 29 anos quando Whiz Comics foi lançada e afirma que, (como todos nós sabemos) o Capitão Marvel não era uma paródia do Superman, uma vez que suas histórias eram sérias mas com um leve toque de humor. Revoltava-se pelo fato de a DC ter transformado o Capitão Marvel em um "Palhaço". Falava da exploração absurda que era feita a argumentistas, desenhistas e atores de fotonovelas para tentar alcançar o sucesso que Tarzan, Hopalong Cassidy, Capitão Marvel, Tarzan e outros fizeram. O resultado foi desastroso. O alvo das agulhadas de Beck? A Fawcett Comics, tempos após sua saida da mesma! MacRaboy, contudo, recebia grandes elogios de Beck.
Hamerlinck retoma u
m gancho da primeira resposta de Beck sobre Jack Kirby e pergunta sobre o que ele não apreciaria na arte do mesmo. Beck por sua vez não alfineta diretamente Kirby, mas aqueles que imitavam o seu estilo, acusando-o assim de ser um influenciador nefasto como Michelângelo. De acordo com Beck, os imitadores de Kirby "são os artistas jovens que desenham seus personagens com um enorme punho cerrado e outro menor, e esses heróis são vistos lutando até mesmo contra a própria sombra ou arremessando os punhos cerrados ao invés de fazerem algo com alguma utilidade." Ele ainda volta à DC para narrar o quanto esta massacrou Jerry Siegel, Joe Shuter, Jack Kirby e Otto Binder, o qual, segundo Beck, "trataram-no como a um vira-latas". Informa que GIl Kane acusou a DC de estar mecanizando as Hqs e tornando-as sem personalidade. De acordo com Beck "Stan Lee é o único que está fazendo alguma coisa excelente e sem copiar idéias alheias". É, titio Stan tem moral, meu amigo! A mágoa de Beck com a DC era tão grande que ele dizia que a DC não sabia fazer nada!
Beck at
ribui a culpa do fracasso de FATMAN, THE HUMAN FLYING SAUCER ao fato de a Lightning Comics, que publicava a revista, não ter distribuidor, e revela o martírio de todo autor: não tinha consigo cópias de seus trabalhos publicados. Ainda previa um futuro não muito bom para quem trabalhava na área dos quadrinhos.
Há muita informação na entrevista com o velho Charles Clarence e se fossemos relatar tudo aqui, certamente se fariam postagens homéricas só com o conteúdo da mesma! Mas antes de dar tchau pro velho Beck, gostaria de destacar mais duas coisas
desta entrevista: a indignação dele ao falar sobre o julgamento da causa DC X Fawcett, onde ele acusa de incompetencia desde o juiz até o meirinho; a outra é a mensagem final que ele deixa para os artistas: "Minha convicção é que eles têm todo o talento que nós poderíamos ter com cinco anos. Nós somos como os músicos. Gastamos o resto de nossas vidas aprendendo o que fazer com o nosso talento. E isto é tudo. Nossa luta nunca termina." Tire suas próprias conclusões, caro amante da Nona Arte! E enquanto reflete sobre isto, monte no seu cavalo e afivele o cinturão...
Uma historia de faroeste no formato Historieta. O título da HQ em questão é BIG
LEE, personagem central da história. Um certo fã de quadrinhos e cartunista na época, tomando conhecimento da Historieta, foi até o local onde o Oscar trabalhava (provavelmente no INSS) e lá fez amizade com o mesmo, chegando até a conhecer a residencia, onde havia uma biblioteca imensa que ele teve o prazer de contemplar! Ele apresentou ao Oscar esta história onde Big Lee está cuidado da sua vida quando recebe a notícia de que seu amigo Mister Howard foi baleado. Chegando à residencia de Mister Howard, este lhe entrega a tarefa de levar Tom, o filho de Howard, ao encontro de seu irmão James, pois Ness Logan, o homem que o ferira também ameaçara matar seu filho. Após algum tempo de cavalgada encontam John Tork, um delegado federal, quando são atacados por índios. Abro aqui um parentesis para ressaltar mais uma vez, como vimos anteriormente em Historieta 2, que os índios são chamados também de "renegados" ao ínvés de apenas índos... Voltando À nossa história, os índios baleam John Tork, mas Big Lee consegue rechaçá-los e ele e Tom o levam para um vilarejo próximo, onde, após se recuperar, John Tork mata o xerife local e se revela na verdade Ness Logan, que acaba sendo morto em duelo por Big Lee. O autor da história assina texto e arte como Hartur. E Hartur era pseudônimo na época de ninguém menos que Arthur Filho da Editora Opção 2 que publica a revista "Billy The Kid e Outras Histórias"! Curiosidades da vida!
Fechando a Edição, temos as fichas de mais dois personagens que não entraram no cânon do livro "O Mundo dos Quadrinhos": desta vez o duplamente homenageado era Emir Ribeiro, pois eram apresentados respectivamente ITABIRA, o chefe dos índios Tabajaras em 1690 e VELTA que, nesta época ainda era chamada de WELTA, ambos publicados na revista 10-ABAFO de autoria do próprio Emir. À época da publicação das fichas, 10-Abafo alcançava a marca de seis edições. Havia ainda o endereço para quem quisesse adquirir a revista com o Emir.

Eu li, eu gostei!

É isso, pessoal, aqui termina o meu pequeno resumo sobre Historieta nº 3. A próxima postagem abordará a Historieta 4, número de páginas maior, mais autores e o capítulo final de "A História dos Quadrinhos"!

Vejo vocês em breve!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Historieta 03 - Parte 2

Saudações, amantes da Nona Arte, portadores do quadrinho na veia


Quero mais uma vez agradecer a receptividade do blog, que foi muito além do que eu poderia esperar! Fico realmente feliz em ver que estão curtindo o material apresentado aqui!

E vamos ao que interessa!

Continuando do ponto de onde paramos no post passado, nos despedimos de Gustavo Nakle e Tupac e passamos a frequentar as "Páginas de Ouro das HQ" conduzidos pelo nosso anfitrião Jorge Barwinkel.
Aqui ele nos dá mais uma aula sobre a revista O GURI, que fazia o sonho da criançada publicando aventuras maravilhosas de personagens sensacionais. Informações importantissimas estão contidas aqui. O trabalho de Barwinkel é com certeza leitura obrigatória para quem deseja saber mais sobre o período em que todos nós que amamos quadrinhos gostaríamos de ter existido para conhecer estas preciosidades! Por exemplo, só pra atiçar a curiosidade do amigo leitor, somos informados que em 1944 "O Guri" passou a ter 100 páginas, sendo vinte delas em cores. Era a época em que os efeitos da guerra atingiam as Histórias em Quadrinhos, fazendo com que O Guri chegasse a ter apenas 68 páginas, graças ao racionamento de papel gerado por ela. Esse era o lado que não gostaríamos de ter vivido daquela época, pois eram racionados também o açúcar e a farinha, e o pão dava lugar à polenta, assim como a energia elétrica e a gasolina eram respectivamente substituidas por lampiões e pelo gasogênio. Barwinkel então com 11 anos atravessara essa fase e conhecera estas revistas, tinha muito o que falar delas! Para ele 1944 a 1948 foram os melhores anos de O GURI.
Personagens e autores nacionais desfilavam pelas páginas da saudo
sa revista, como José Geraldo , Peri Jacob e Péricles, este último autor de O AMIGO DA ONÇA, PIXILINGA e OLIVEIRA, as duas últimas enfocando a malandragem brasileira. O GAÚCHO também era um dos personagens nacionais que passearam pela revista.
Em 15 de Março de 1945 estreava na revista a MISS AMÉRICA. Não a que a Ebal batizou de Miss América, que na verdade era a Mulher Maravilha, mas a verdadeira Miss América, que mais tarde seria definitivamente integrada à cronologia da Marvel Comics como esposa de
Ciclone, pai adotivo da Feiticeira Escarlate.
Diversos personagens estamparam as páginas de O GURI e uma curiosidade: Os Invasores foram publicados na revista e uma lista dos membros do grupo aparece em um anúncio prometendo o lançamento para Dezembro de 1947, a saber: Tocha Humana (o original), Centelha, Capitão América, Buck (isso mesmo,
sem o "Y"), Principe Submarino (Namor), Miss América (a original, claro) e JOEL Ciclone. Os decenautas de plantão sabem que Joel Ciclone é o nome que foi dado ao Flash da DC (na época National) original (Jay Garrick), que depois passou a pertencer à Terra Paralela, e o nome original do Ciclone da Marvel é "WHIZZER", então, como explicar essa inserção do nome "Joel" ao Ciclone? De acordo com Barwinkel, um erro no anúncio!
Os amigos me perdoem, não dá pra falar tudo aqui, por mais que eu queira, pois são muitas coisas legais nessas páginas de Ouro que o Barwinkel nos deixou de legado! E QUE legado! Mas há algo que não quero deixar de frisar sobre esta seção, que é informação de que houve um concurso para a escolha de um Slogan para a revista, lançado em 15 de março de 1947 e encerrado em 30 de maio do mesmo ano. O slogan vencedor foi: "DO OYAPOQUE AO CHUÍ TODOS LÊEM O GURI"! Puxa! Sensacional!

Canini vem a seguir, com uma questão intrigante: "Se não foi o Marconi!, entãoquem foi?". Ao longo de 9 quadrinhos com diferentes personagens surpreendendo-se ou constatando que não foi mesmo o Marconi o primeiro a ter a idéia sa invenção do aparelho de rádio. Dados históricos, comprovam a tese de que o padre Leonel de Moura, vigário da Igreja do Rosário, havia projetado um aparelho de rádio muito antes que Marconi publicasse sua idéia, embora tal projeto apresentado ao governador do Rio Grande do Sul na época o senhor Borges de Medeiros, não pudesse ser levado adiante por falta de verbas, fazendo com que o Brasil perdesse a oportunidade de ser o país que inventou o rádio. Historieta é História!
Na cidade de San Esteban, México, Aparecido Cocolete nos apresenta Pedro Ramires, um homem comum que passou
cinco anos preso por um crime que não cometeu e encontra a rejeição do povo de sua cidade, inclusive da mulher que ele ama, Lolita, que agora ama outro homem. Seu antigo emprego não está mais disponível e não consegue um novo. Por fim, quando a sorte lhe sorri nos jogos de cartas, um derrotado insatisfeito saca a arma e decide matá-lo, mas acaba morto. A única sorte de Pedro Ramires é a presença do Xerife no local que não o prende, mas expulsa-o da cidade, e assim Pedro Ramires torna-se um andarilho em busca do seu destino. Uma história comovente, um faroeste com apenas um tiro. Muito bem dado. Esta história chamada ESTIGMA é a única que não está no formato Historieta.
"Cartas & Mercado traz
mais um show à parte, com colecionadores e leitores disponibilizando revistas para venda ou troca, outros informando desejos de aquisição. Leitores como José Jefferson Barbosa de Aquino, coordenador brasileiro do fanzine norte-americano "The Whiz Kids", que declarava ser o número 2 de Historieta insuperável a longo prazo, expressavam diversos tipos de opinão na seção que ganhava ares de polêmica, pois no caso de S. Miguel (aquele que escrachou os super-heróis na seção de cartas de Historieta 2, lembram?) "A Vingança" e "A Maleta" por serem respectivamente de 1972 e 1967 cheiravam a refugo; aliás, S. Miguel já começava sua carta detonando a capa da edição 2 de Historieta justamente por ela apresentar o Homem-Justo, além de taxar o desenho de Tiago Barbosa de "antiquado" e sugerir a diminuição de "Cartas & Mercado" e, pasmem, "Páginas de Ouro das Hq"! Vale aqui destacar a resposta que lhe dão, de maneira clara e sucinta: "...quando se edita HQ's estrangeiras produzidas há alguns anos, a gente está apresentando material inédito; se são brasileiras, é refugo..." Pois é, esse perrengue é antigo, meus amigos! Em contrapartida, Athos Eichler Cardoso foi mais brando, elogiando os pontos positivos, como o formato, a história do Inspetor Bíceps e elevando "Páginas de Ouro" a Carro-Chefe da revista. O próprio Oscar Kern figura nas páginas de Cartas & Mercado solicitando a revista portuguesa semana "Tintin". Itamar Fernandes elogiava o Homem-Justo e Sérgio Penha fazia-lhe côro, discordando do fato apontado de que os heróis fantásticos estariam saturados. Alberto Luiz Martinazzo apontava os erros de português existentes na revista e os erros de continuidade da arma do mexicano na história vingança. Humildemente o pesosal da Historieta acatou as observações, publicou-as e pediu desculpas aos leitores! E aqui nos despedimos desta seção para falar de um assunto sério.
Eu disse sério? Bem, em se tratando de Canini não havia assunto sério em historieta e em sete quadrinhos de colagens diversas ele alertava para os males do cigarro e usava John Wayne como exemplo.
Hoje eu vou ficando por aqui, já falei demais, embora ainda quisesse falar mais um tantinho... Na próxima e última postagem sobre Historieta 3, a entrevista com C. C. Beck, criador do Capitão Marvel, a HQ Big Lee, de Hartur, e "Mundo dos Quadrinhos".
Um grande abraço a todos e até a próxima!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Historieta 03 - Trazendo novas idéias!

Amigos e amigas internautas aqui estamos nós para mais uma revista sensacional que faz parte da história dos quadrinhos nacionais! Muitas pessoas têm me escrito agradecendo o que estou fazendo aqui e fico feliz por isso, pois não tinha idéia da necessidade que as pessoas tinham das informações que estou compartilhando aqui! Espero não decepcioná-los futuramente! Também estou atendentedo a um pedido de alguns amigos que reclamaram do tamanho da postagem, e por isso estou dividindo a postagem em duas partes! Mas um aviso: como terei mais espaço, talvez acabe falando mais do que deveria! Então, sem mais, vamos a ela: Historieta 03!


Como em toda revista que lemos, comecemos pela capa. Aliás, u
ma bela capa assinada por Aparecido Cocolete que se firmava como um excelente colaborador de Historieta, para alegria dos leitores, pois era dono de uma bela arte e possuia um "sotrytelling" muito bom. Aqui temos elementos que acho primordiais em uma capa: ação e foco no personagem principal, no caso aqui, BRIGADA DAS SELVAS e KENAUA, que, como veremos mais adiante, eram a melhor novidade da revista.
O expediente da revista informava a data da publicação: Agosto de 1980,
e o editorial nos informava as alterações no conteúdo da revista entre as quais, não constava ainda a segunda parte de "A História dos Quadrinhos", ou seja, continuávamos sem saber as desventuras do Carequinha e do Hugo. Paciência, o editorial prometia que na edição nº 04 veríamos a sequencia da história. Também era anunciado que não teríamos Hq do Homem-Justo, prometido para retornar às páginas de Historieta na edição nº 05. Os leitores eram informados sobre a aquisição de números atrasados na Livraria Coletânea ou pelos correios, na caixa postal da revista. Também era informado que todas as histórias da edição estavam no "formato Historieta", com exceção de uma, a qual falaremos mais adiante. Vamos então ao conteúdo da revista, pois sei que deve estar ansioso, meu amigo!
A primeira história da revista, conforme anunciado no editorial, era de autoria dos mesmos autores de "Homem-Justo" e "A História dos Quadrinhos", ou seja, Ailton Elias e Oscar Kern. Obser
vando a primeira página da história vemos que a "Brigada das Selvas" era criação de Ailton Elias, o qual também desenhava e o texto e o roteiro eram do nosso saudoso Oscar. História excelente da qual ouso arriscar dizer que teve forte influencia dos Fumetti, dos quais sei que era o Oscar um grande apreciador. Os desenhos de Elias aqui me trazem à lembrança quase que imediatamente Fernando Fusco, desenhista de Tex Willer. Se há influencia eu não sei, mas dá um charme especial à história! Uma leitura gostosa que flui naturalmente e nos apresenta a saga de KENAUA, filho de um gaúcho com uma índia de uma tribo não especificada na história. Portanto aqui ficamos sem saber a que tribo Kenaua pertencia, embora este seja um nome de Origem Tupi, que significa "dançarino". Kenaua, que fôra educado na "civilização" e ficara órfão de pai após o mesmo ser atropelado por um motorista bêbado, está no cotidiano de sua aldeia quando um grupo de estranhos se apresenta com o pretexto de querer trocar presentes. Apesar de não conseguirem enganar Kenaua, os Bandidos dominam a tribo com armas de fogo e ferem seu avô para em seguida, três dias depois levarem todos os índios para trabalharem como escravos em minas, provavelmente de ouro. Como Kenaua não se dobra aos bandidos, estes resolvem amarrá-lo a um tronco e deixá-lo para morrer afogado ou de fome, e é aí que se dá o encontro do índio com a BRIGADA DAS SELVAS, criada para "proteger uma das mais ricas regiões do Brasil contra a ventureiros, piratas modernos, contrabandistas, espiões e toda gama de aproveitadores do esforço alheio, inclusive quanto a aspectos ecológicos", segundo palavras do próprio Kern na Hq.
A Brigada das Selvas era na verdade o 5º Destacamento da Brigada Militar na Região Amazônica, cujo principal grupo de ação era o P.O.E - Pelotão de Operação Especial comandado pelo Capitão Paulo Nunes Brasil. Além do Capitão, apenas mais dois personagens são chamados pelo nome: o Doutor Costa, médico civil da Brigada e o Sargento Moura, um dos dois P.O.E que encontraram Kenaua amarrado ao tronco e descendo rio abaixo.
Após sua recuperação, Kenaua se oferece para fazer parte da Brigada, alegando seu treinamento militar no Rio Grande do Sul e seu deslocamento em relação aos seus irmãos de aldeia e ac
aba sendo aceito e participando das buscas para encontrar sua tribo que ainda se encontrava em poder dos bandidos. Após algumas tentativas inúteis, um comentário casual coloca Kenaua na pista certa e ele encontra o local onde seus irmãos estão. Ele vai sozinho e consegue penetrar no acampamento dos bandidos e ainda liberta seus irmãos. No final é promovido a Cabo da Brigada. Caso alguém se interesse, essa história pode ser lida na íntegra no site da Nona Arte, clicando aqui! É uma história sensacional que merece ser lida com muito carinho. Digo isso porque geralmente os autores nacionais são duramente criticados e muitas pessoas não lêem determinadas histórias por puro preconceito. Se analisarmos o texto e roteiro dessa história, veremos quão rica em nuances ela é! Prova indelével do talento brasileiro de escrever histórias em quadrinhos! Vale a pena! Passemos, então, à seção seguinte!
A seção "Gente de HQ" vem, desta feita, em uma única parte e nos apresenta o trabalho de Decio Dalke e Gil Kipper com a revista "Beto e a Turma do Esporte", com um slogan que se mostra muito importante também para os dias de hoje, onde vemos cada vez mais crianças e adolescentes presos em fren te a computadores e videogames, entregues ao sedentarismo infantil: "Criança que estuda e pratica esporte, desenvolve o corpo e a mente". Com certeza um quadrinho educativo com personagens interessantes de se ver, como CEBÊ DURÃO, BOA PINTA e os MALANDROS DO BECO. A revista, publicada pela "Dalke Editora e Public idade" era colorida e bimestral, no mesmo formato das revistas Xuxá e Pequeno Scheriff, revistas publicadas pela editora Vecchi nos anos 50. No desenho podemos ver todos os personagens e retratos desenhados dos autores.
Em seguida temos Canini mais uma vez com suas colagens desta vez satirizando o Batman. "Bat-Mal e Bobin, o Pivete-Prodígio "
é o título da seção, onde "Bobin" (na verdade o Comissário Gordon com uma máscara de Robin desenhada sobre o original) só aparece memso no final. Dos nove, oito quadros satirizam o Batman nas mais diversas formas, deste um desmaio ao ver um morcego de verdade, passando pelo roubo da Bat-Corda, exibicionismo de botas novas, dança de xaxado, capa feita em Itu, limite de velocidade, acorrentado por falar mal de Historieta e ver mulher descendo dos ônibus. Divertidíssimas as cenas em que Canini dá seu show de humor. Destaque para o Capitão Marvel no início da seção avisando que só está de passagem!
E para fechar esta postagem, Historieta apresentava um novo talento em suas páginas, do qual sabemos apenas o primeiro nome: Gustavo. A proposta da história de Gustavo era a de contar uma história diferente que começava e terminava sem sabermos o título. O argumento para tal fato era o de que quando um grupo se reúne para contar histórias não põe títulos nelas, simplesmente começa a contar. Bom, falando como leitor, não é um argumento que me convence,
afinal uma coisa é contar entre amigos, outra é publicar em uma revisa, mas enfim, vamos à história, na qual temos desenhos confusos e imprecisos, lembrando, por vezes arte rupestre, principalmente e relação à anatomia. Trata-se da história do povo de TUPAC, um centauro que lidera seus semelhantes em uma fuga de homens opressores até que resolvem enfrentá-los mesmo sabedores da impossibilidade da vitória. Ao fim do sangrento combate, apenas Tupac sobrevive entre aliados e inimigos mortos e afasta-se daquele lugar de morte para recrutar mais soldados para novas batalhas contra seus opressores. O texto é bem escrito, o autor filosofa sobre a liberdade e o preço a se pagar por ela. Talvez desenhada por outro artista fosse mais interessante, mas a mim, como leitor não agradou, embora, mais uma vez reconheça que o texto da história é muito bem escrito e temos a certeza de que foi pensado e refletido.
Por enquanto é só, pessoal, breve darei continuidade ao material de Historieta 3, qua ainda traz uma entrevista com C.C. Beck, o criador do CAPITÃO MARVEL, mais duas Hqs de faroeste, Páginas de Ouro, Cartas e Mercado e Fichas de personagens que não figuraram no livro "O Mundo dos Quadrinhos".

Aguarde, amante da HQB!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Historieta nº 02 - O Caso de Amor Continua

Saudações, amigos amantes da Nona Arte produzida em território tupiniquim!

Obrigado a todos que comentarm aqui e mesmo os que visitaram e não comentaram mas deixaram sua marca, seu carinho, sua lembrança aqui neste blog! A presença de vocês é o estímulo necessário pra seguir em frente e vasculhar um pouco mais o passado da HQB! Foi com imensa felicidade que recebi a notícia de que a postagem anterior estimulou amigos a lerem as Historietas que tinham em suas coleções e que, pelos motivos que todos nós temos que nos impedem de ler o que queremos, ainda não tinham lido e se deliciaram com a leitura gostosa do trabalho do nosso saudoso Oscar Kern! Sinto-me honrado e feliz pelo acontecido e parabenizo-os por agora fazerem parte do time de felizardos que contemplaram o trabalho apresentado ns primórdios da Historieta! Ao nosso amado Oscar Kern um muito obrigado póstumo por ter nos deixado este legado maravilhoso!
HISTORIETA Nº 02 - MAIS AMOR PELOS QUADRINHOS

A edição nº 02 de Historieta nos traz gratas surpresas e mostra o quão apaixonado era o trabalho de Kern & Cia. Apesar de não apresentar a sequencia de "A História dos Quadrinhos", nos deixando sem saber, por enquanto, se o Carequinha e o Hugo conseguiram chegar à Pedra da Eternidade para falar com o Mago Shazam, temos outras preciosidades valiosíssimas para contemplar.
Assim co
mo a edição 01 esta edição também não trazia a data da publicação, mas apresentava um expediente mais completo. Tínhamos também um editorial mais enxuto e organizado, diferente do confuso editorial da primeira edição, sinal que os autores buscavam a evolução constantemente. O formato interno de historieta apresentava mudanças significativas: enquanto na primeira edição tínhamos duas páginas por folha, nesta edição Historieta consagrava o formato que lhe caracterizou marcantemente, colocando uma página por folha no formato que conhecemos por "paisagem", salvo duas histórias, sobre as quais falaremos mais abaixo. Se era tendencia, não posso dizer, mas os leitores pediam isso na seção de cartas e das duas uma, ou Kern tratou o leitor com extremo respeito alterando o formato a pedidos, ou ele era um visionário que soube se antecipar ao desejo dos leitores. Em ambos os casos, um homem brilhante, que nos faz falta!
A capa anunciava "A Origem do Homem-Justo", ponto forte da publicação onde Kern, indo contra o pensamento que já predominava naquela época de que super-herói brasileiro era perda de tempo, publicava seu originalíssimo Homem-Justo de forma muito bem feita.
O conteúd
o da revista era de igual forma envolvente, como a primeira Hq, de autoria de Jonas Schiaffino, intitulada "A Bomba" que, embora traga o INSPETOR BÍCEPS como protagonista no título, dá destaque mesmo à bomba citada, que é o centro desta história onde se retratam facetas da estupidez presente no comportamento humano, desde o assaltante, ao salvador que vira vilão e ao funcionário que se deixa levar pelo oportunismo e pela ganância. Uma sátira divertida que nos faz refletir bastante sobre o mote "a ocasião faz o ladrão"! Nem é preciso dizer que o final da história do Jonas é pura justiça poética! "A Bomba é uma das HQs que ainda vinha no formato de duas páginas por folha.
Outro ausente nesta edição é o Doutor Fraud, que estrelava as tiras de Canini na edição anterior. Em compensação, Canini e suas colagens intituladas "O Nankim Mais Rápido do Oeste" tomam duas páginas da revista e nos fazem rir com cenas engraçadíssimas satirizando cenas dos quadrinhos de faroeste como TEX e LONE RANGER. Hoje podemos reconhecer os traços de mestres como Gugliemo Letteri, Giovanni Ticci, Fernando Fusco e muitos outros misturados naquelas colagens sensacionais e muito bem-humoradas.
Na sequencia, Tiago Barbosa nos mostra, em texto e desenhos, seu personagem CHICO FLEXA c
aindo sem querer no caminho de criminosos que disputam a posse de uma misteriosa maleta negra. O título óbvio da história é "O Caso da Maleta Negra", e o repórter com ares de detetive desvenda brilhantemente o caso nas barbas da polícia! Esta história havia sido produzida em 1967 para a "Maurício de Souza Produções, que na época publicava tiras de aventura embora tal fato durasse pouco tempo. Flávio Colin foi um dos que publicou "Vizunga" pela "Maurício de Souza Produções. Infelizmente para Tiago Barbosa, a história da maleta não foi publicada, pois Maurício de Souza passou a publicar apenas tiras de humor. Sorte dos leitores de Historieta! Não posso deixar de dizer que adoraria ler outras histórias de Chico Flexa, pois é um personagem interessantíssimo! A HQ se apresentava no formato "retrato", ou seja, para lê-la precisávamos virar a revista na horizontal e passar as páginas de baixo para cima, mas era uma página por folha.
Kern nos brindou ainda com outro momento histórico na seção "Gente de HQ", em duas partes nesta edição da revista; Na primeira parte, logo após a HQ da maleta negra, temos Tiago Barbosa,
criador do Chico Flexa acima citado, e Jorge Barwinkel, importantíssimo colaborador de Historieta nas seções "Mundo dos Quadrinhos", e "Páginas de Ouro das HQ", ambos examinando os originais da HQ "O Caso da Maleta Negra" e uma brevíssima biografia do primeiro, que nasceu aos 7 de Novembro de 1941 em Carazinho, RS.
"Páginas de Ouro das HQ", por Jorge Barwinkel,
vem logo a seguir fazendo água na boca de quem não viveu aquela época e vê as capas do hoje clássico "O Guri" com os personagens que fizeram a história das HQs e marcaram as vidas de inúmeras pessoas! É de babar ver capas com ÁGUIA FANTASMA, MR. ESCARLATE, CAVALEIRO NEGRO, e reprodução (em miniatura) de páginas de RAFFLES, Y-JUCA PIRAMA, CAMILLA (A RAINHA DO IMPÉRIO PERDIDO), CAPITÃO TORNADO, CAPITÃO TERRY THUNDER, BOB E JUCA OS DOIS ESCOTEIROS GÊMEOS, MARTAN (O HOMEM MARAVILHOSO) e... BUCK ROGERS, além de informações sobre a diretoria de "O Guri", por onde passaram Accioly Netto, Frederico Chateaubriand e Nelson Rodrigues (ele mesmo O Nelson Rodrigues, autor daquelas polêmicas histórias!). Um verdadeiro achado de informações sobre a história da HQ no Brasil!
Já Aparecido Cocolete da o ar de sua graça em Historieta com a
HQ de faroeste intitulada "Vingança" com texto e desenhos dele e letras de D. Maldonado. Esta é a outra HQ que trás duas páginas por folha. Os desenhos de Cocolete são excelentes para a época e poderiam muito bem ilustrar um dos muitos fumetti da Bonelli ou Bonellide, dadas as excelentes cenas que temos nessa HQ, onde um cowboy chamado Steve se vê às voltas com um bando de índios (aqui curiosamente chamados de renegados) e um mexicano que buscava vingança por ter sido preso no passado com sua ajuda. Os cenários da HQ lembram em muito os cenários das HQ's de Ken Parker desenhados por Ivo Millazzo. A HQ tem um final surpreendente, que mostra que desde sempre temos, sim, excelentes roteiristas no Brasil!"
Estreava a seção "Cartas & M
ercado" que é outra preciosidade da revista! Os leitores mandaram suas cartas e inclusive um deles, Fábio Santoro, chega a dar "notas" para itens presentes na Historieta, como o expediente, que recebe nota 2, a HQ do Homem-Justo, que recebe nota 4 e o formato da revista que recebe nota 10. Noutra carta Edson Rontani perguntava se Oscar era era parente de Sergio Kern da revista aregentina "Tinta" (O Oscar prometeu tentar descobrir). Em mais uma carta, S. Miguel, editor da revista "Piazito" e do suplemento "PIÁ" do Rio Grande do Sul dizia que gostou apenas do trabalho de Canini na Historieta 1 e destacou principalmente que heróis como o Homem-Justo já estavam saturados e isso já naquela época nos idos de 1979... o que ele diria hoje? São curiosidades deliciosas que só aumentam o valor da revista! Ainda haviam outras cartas, as quais se discorrer aqui certamente não me deixarão terminar a postagem! Passemos então a mais uma etapa de Historieta 2, que é a chamada de capa: O HOMEM-JUSTO!
A cidade é Porto do Sol, embora a história comece a 10 quilômetros dela. Aqui, com textos de Oscar Kern e desenhos de Ailton Elias, ficamos sabendo apenas o primeiro n
ome da identidade do Homem-Justo: Marco, que estava percando tranquilamente até a chegada do alienígena Borin que, ferido mortalmente lhe passa o cinto de campo de força e a nave. Um caso curioso é a predileção do Alienígena Borin por café! Ele pede um pouco antes de narrar sua história para aquele que seria o Homem-Justo. A história de Borin é digna das melhores HQ's de ficção da DC. Elias tinha um quê meio Ditko em Rac Shade nessas HQ's do Homem Justo. Coisa curiosa era a nave dimensional do Homem Justo que por dentro era maior que por fora, como logo constatou o Marco. Apesar de você prever o óbvio, a HQ prende você do começo ao fim, seja pela nostalgia, seja pelo ótimo roteiro de Kern que sabia escrever muito bem uma HQ. Antes do final ainda temos uma explicação para como o Homem Justo conseguiu encontrar o garoto sequestrado na edição anterior, graças a um aparelho que deteriminava o ritmo cardíaco de uma pessoa pelas suas características faciais! Kern era um gênio da criatividade! Não consigo entender como alguém podia dizer que essa história é sem graça e ultrapassada, não consigo mesmo! A origem do Homem-Justo é muito bem sacada e ficou marcada na minha mente como um verdadeiro clássico dos quadrinhos nacionais. E o futuro nos revelaria mais boas surpresas com o Homem Justo! Aguardemos!
A seguir, temos a segunda parte de "Gente de HQ" com um achado imperdível para os dias de hoje: Uma foto de dois
cabeludos chamados Franco de Rosa e Seabra, aqui descritos como Entusiastas de HQ, desenhistas e teimosos por terem publicado mais de mil tiras do CAPITÃO CAATINGA no jornal "Notícias Pupulares" de São Paulo. Nesta época ambos estavam produzindo as revistas "Klik" e "Zorro capa e Espada" para a Ebal. também são mencionadas as "famosas" revistinhas editadas no Paraná (quem lê entenda) onde ambos apareciam, embora o Seabra fosse mais frequente! História da HQ, pura História!
Era a vez, então, de Kern mostrar sua veia cômica em quatro tiras onde brinca com trocadilhos como "nadar entre as Honda
s" e "atirar nos Pumas" em meio a colagens similares às de Canini, mas com enfoque bem diferenciado e muito criativo!
Finalizando
a Edição, Jorge Barwinkel nos presenteia com mais três "fichas" de personagens que não foram incluidos no livro "O Mundo dos Quadrinhos" de Ionaldo Cavalcanti, na seção homônima, a saber: SEXTETO SECRETO, grupo de combatentes do crime criado por E. Nelson Bridwel e liderado pelo misterioso BEM-TE-VI, que chantageia o grupo, forçando-0s a agirem em seu nome com a filosofia de que "os fins justiicam os meios". Dick Giordano e Jack Sparling desenhavam as histórias, nas quais os membros do Sexteto desconfiavam uns dos outros, achando que BEM-TE-VI poderia ser um deles; SOLAR, O HOMEM ÁTOMO, criado por Paul S. Newman e Matt Murphy, publicado pela editora Gold Key e aqui no Brasil pela Ebal a partir de 1966. A revista teve duração de vinte edições. Solar era um Super Herói com a capacidade de converter seu corpo em energia e não tinha respiração nem pulsação; FIKOM, personagem originalíssimo criado por Fernando Ikoma . Um detalhe curioso é que Fikom é a junção da letra "F" de Fernando com o nome Ikoma sem o "A" do final. Fikom é um rapaz chamado Mukifa que, ao dormir se materializa em outra dimensão e vive aventuras fabulosas. Foi publicado pela editora Edrel e à época da publicação de Historieta não mais circulava.

Eu Li, Eu Gostei!

Por hoje é só, pessoal! A gente se vê em breve com Historieta nº 3!

Um grande abraço a todos fiquem com as bênçãos maravilhosas de nosso DEUS!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Historieta Nº 01 - Um caso de amor com os Quadrinhos



Prezados amigos, saudações!

Não sou um pesquisador, preciso avisar isto. Para ser pesquisador o cara tem que ser muito bom no que faz, tem que ter um profundo conhecimento do assunto e eu não estou qualificado para sê-lo, portando peço de antemão perdão por qualquer erro histórico que eu venha aqui cometer. Este blog apenas mostra a visão de um fã sobre o trabalho de autores que são mestres em nossa amada Nona Arte. Outro esclarecimento é a respeito do título do Blog: quando digo "preciosa" não é porque minha coleção esteja permeada por edições raras e de custo monetário altíssimo, e sim porque as considero assim: preciosas! Cada quadrinho, cada personagem, cada fala, para mim são todos especiais, únicos, de valor sentimental inestimável!
Aqui neste blog falarei dos quadrinhos que tenho em minha coleção e que fazem a alegria deste coração que teima em não se tornar um adulto, mas permanece uma eterna criança! E não podia deixar de nesta primeira postagem falar de uma das revistas mais importantes da minha coleção: Historieta nº 01, do nosso saudoso Oscar Kern, que nos deixou este legado maravilhoso! Sem mais delongas vamos a ela!

HISTORIETA Nº 01 - UMA DECLARAÇÃO DE AMOR AOS QUADRINHOS!

Kern era um poeta apaixonado! Só isso explica a preciosidade que é a revista Historieta! A revista é permeada de informações como a que diz que na década de 60 as revistas Batman e Superman haviam sido proibidas de circular no Rio Grande do Sul em detrimento das revistas da CETPA, entre elas a de ABA LARGA, e que tal atitude não funcionou pois o público não correspondeu às expectativas da editora, resultando a iniciativa em fracasso. A revista ainda abria o editorial anunciando o espaço para autores interessados em publicar suas Hqs.

A primeira história da revista, que se apresentava em formato "cartilha" trazia o super-herói HOMEM-JUSTO, com texto do próprio Oscar Kern, desenhos de Ailton Elias e letras de D. Maldonado, personagem que já havia sido publicado pela já extinta editora M&C de São Paulo.
Nesta história o Homem Justo aparecia misteriosamente no centro da cidade de Porto do Sol para ajudar a solucionar um caso de sequestro de uma criança. Com seus misteriosos superpoderes o HOMEM-JUSTO dá uma surra nos captores do garoto e o resgata, para alívio da desesperada família. Genial o texto de encerramento da HQ, onde em resposta à pergunta do Inspetor de Polícia, o Homem Justo responde: "Digamos apenas, Inspetor, que procuro ser um homem JUSTO, só isso." - Genial!
Em seguida temos uma excelente matéria de autoria de JORGE BARWINKEL sobre quadrinhos antigos e sobre as revistas que fazeram a alegria de muitos nos primórdios das Hqs no Brasil, como O GLOBO JUVENIL, O GURY, FANTASMA, DICK TRACY, FLASH GORDON, LOBINHO, BIRIBA... como eu queria ter lido essas revistas... Era o advento da televisão e ele atribuia o esmorecimento dos leitores à dita cuja "a exemplo das histórias de Flash Gordon", como ele mesmo cita. Hoje lançamos a mesma culpa sobre a Internet e os vídeo games e juramos de pés juntos que a televisão não teve nada a ver com o declínio dos quadrinhos nos anos 60! Curiosidades das gerações! A matéria é um achado imperdível para quem quer saber história dos quadrinhos no Brasil! A seguir uma declaração de amor de Kern e Elias aos quadrinhos: A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS! Uma história cheia de achados emocionantes e referencias maravilhosas! Eu me emocionei a cada quadrinho lido e agradeci a Deus por eles terem produzido algo desta natureza. A primeira parte de A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS narra episódios curiosos e tristes. A primeira referencia aparece no início da história quando o YELLOW KID com sua característica camisola e as legendas que lhe eram peculiares avisava sobre os cuidados com a cronologia. YELLOW KID, criação de Richard Fenton Outcault é apontado aqui como o predecessor direto das histórias em quadrinhos, mas não apresentava diálogos em balões em suas histórias, por isso sua fala aqui é em forma de legenda em sua camisola. Em meio às homenagens, os autores da história "apareciam" sempre nas sombras ou de costas para o leitor, evidenciando que quem estava em destaque mesmo eram os personagens e não eles! Muito bem sacado! as referencias seguintes são curiosas e de valor histórico, pois fazem refrência a personagens que seriam inspirados no mágico MANDRAKE, a saber o mágico KARZONI que, diferente do personagem de Lee Falk, que fazia mágicas com truques hipnóticos, alterava de verdade a realidade. Para quem não não sabe, Karzoni foi o nome que o mágico ZATARA, pai da feiticeira ZATANNA recebeu quando foi publicado em "Suplemento Juvenil " e em "Lobinho" e ele usava cartola, assim como Mandrake; ZAMBINI, da Archie Comics, publicado em "O Globo Juvenil" aqui no Brasil; e também Mr. X, criação de Will Eisner e Bob Powell, publicado em "O Guri"; tanto Zambini quanto Mr. X usavam turbante mas sempre foram comparados ao Mandrake e isso é narrado nesta HQ sensacional de Kern e Elias. Em seguida são introduzidos os personagens principais da história, o CAREQUINHA e seu amigo índio HUGO, que após conversarem com o autores são enviados para conversar com ningém menos que BILLY BATSON, o qual informa que não trabalha mais em "historietas" e que o CAPITÃO MARVEL se encontra enclausurado em um Presídio. Esse fato apresentado na história é a visão de um fã sobre o acontecido entre DC e Fawcett Comics, quando a primeira acusou a segunda de plágio ao personagem Superman e o Capitão Marvel foi impedido de ser publicado. Quando Carequinha e Hugo conversam com o Capitão Marvel na cadeia, Carequinha pergunta então se Supermoça e Superboy não seriam plágio de Mary Marvel e Capitão Marvel Júnior. É a indignação dos autores expressa na hq de uma maneira que faz com que de nós mesmos parta essa indagação, mesmo décadas após o acontecido. Inclusive antes disso, Ailton Elias (sempre com o rosto oculto) reclama do fato e diz que "a medida parece, a nós brasileiros, muito antipática. Eu gostava do Capitão Marvel." Na verdade, a Fawcett comics havia decidido cancelar a revista do Capitão Marvel devido às baixas vendas e, por isso fechou um acordo com a DC, mas isso não tira o mérito da história em momento algum (caso alguma informação aqui esteja equivocada, por favor me corrijam, ok?)! Bem, como o Carequinha queria ser um herói, o Capitão Marvel manda ele falar com o Mago Shazam, deixando então a sequencia para a edição seguinte.
Na sequencia, temos uma série de tiras de humor de autoria de Renato Canini, bastante conhecido por seu trabalho em ZÉ CARIOCA da Disney pela Editora Abril. As tiras têm como personagem principal o DOUTOR FRAUD em colagens com personagens como CORTO MALTESE (aqui chamado de CORTO MALTÊS), ARQUEIRO VERDE, SUPERMAN, BATMAN E ROBIN e TOM (& JERRY). Muito engraçadas, as tiras eram um ponto muito forte da publicação. DOUTOR FRAUD já havia sido puplicado nas revistas "Patota" e "Pancada" respectivamente das editoras Artenova e Abril. Kern, prolífico escritor, apresentava também a divertidíssima história "O Barão e os Duendes", onde um homem recebe um castelo de herança e junto com ele recebe de presente também sete duendes picaretas chamados CLARK, BRUCE, GORDON, PARKER, MERLIN, GAGUINHO e SACI. Não é difícil advinhas as referencias quadrinísticas aqui presentes! Os desenhos são de Nivaldo, que apresenta também uma página de HQ só sua de OSSILDO e MITZ, um cão e um gato que vivem como... cãoe gato! Divertidíssimas, as duas histórias! Numa delas Ossildo, o cão, nasce de um ovo e há um aviso aos Zoólogos de plantão, que diz: "O cachorro é meu, nasce como eu quero!" Ótimo para calar a boca dos metidos a realistas, embora se trate de uma história de humor! Fechando a edição, a seção "O Mundo dos Quadrinhos" traz duas fichas de personagens nacionais: DETETIVE NELSON, um detetive no estilo das boas e velhas histórias policiais e HOMEM-FORÇA, um super-herói que recebeu seus poderes de ciantistas marcianos para lutar contra o mal, ambos criados por Altair Gellatti na revista "Albatroz" de autoria do mesmo, e que foi publicada em Caxias do Sul, RS de 1967 a 1971 com duração de 46 números. A apresentação destas fichas, que são bem diferentes dos formatos de fichas atuais, que informam idade, peso, altura, poderes e, se bobear, até a cor da cueca do personagem, vinha trazer ao conhecimento do público personagens que não constavam do livro "O Mundo dos Quadrinhos", de Inoaldo Cavalcanti, lançado pela Editora Símbolo. A seção levava o mesmo nome do livro como forma de homenagear Inoaldo por seu hercúleo trabalho em lançar um catálogo com 1.800 personagens de quadrinhos!

Eu li, eu gostei!

Por hoje é só, vejo vocês em breve com mais uma maravilhosa revista da minha coleção! Abraços a todos e fiquem com as bênçãos de Deus!